1º Recruta

Ao que parecia, Sullivan, tinha acertado em todas as perguntas, assim como a maioria dos outros recrutas, infelizmente, dois deles erraram e as suas cabeças foram mergulhadas nos baldes. Viu-lhes as caras completamente vermelhas e inchadas, mais do que a de Valkyria, anteriormente, devia ter doído, coitados. Fomos obrigados a olhar para os recrutas em sofrimento, visto que era algo que poderia acontecer no futuro, Sullivan odiava essas coisas, é preciso ter uma mente muito perturbada para obrigar alguém a ver um amigo, colega ou que quer que seja, ser torturado, quando viu os dois recrutas com a cara mergulhada, mordeu os lábios com tal força que os fez sangrar, estava irritado, mas sabia que nada podia fazer, mas vontade de partir a cara aos formadores não lhe faltou, mas sabia que tudo ali eram testes, aquele era só mais um. Quando foram soltos, dois recrutas, rapidamente foram ao encontro dos seus parceiros, Sullivan teve vontade de lhes perguntar se precisavam de alguma coisa, mas pareciam estar em boas mãos e não se queria intrometer. Olhou para Elena e Elaine, esboçando um leve sorriso, como que dizendo safá-mo-nos, ambas o olharam com um ar preocupado e assustado, Sullivan esquecera-se de que lhe escorria sangue da boca, rapidamente a limpou, ao braço e riu-se, abanando a cabeça, parecia um tolo.
Mais tarde, ainda nesse dia, 3 dos recrutas saíram do armazém, Sullivan só tinha falado com Elena e Elaine,  apesar de nada conhecer delas, por momentos teve vontade de ir ao seu encontro, mas não quis parecer chato, levantou-se bebeu um gole de água da torneira e limpou o braço sangrento, tinha a boca completamente estragada, que estupidez. Sentou-se na cama e espreguiçou-se, estava cansado, não tinha dormido praticamente nada, mas também ainda era cedo e, se dormisse agora, no dia seguinte arrepender-se-ia.

Elaine ficou aliviada por ter acertado em todas as questões. Não estava, de todo, com vontade de ficar com o cabelo espetado e a cara vermelha de inchaço. Assim que os instrutores lhes deram permissão para repousar, abandonou o armazém. Sentou-se sozinha perto de um arbusto com bagas silvestres, comendo algumas, enquanto observava alguns recrutas ao longe. Estava uma manhã agradável. O sol espreitava por detrás das nuvens, acompanhado de uma brisa suave, que criava a temperatura ideal.

Enquanto descansava, sentado na cama, ouviu passos, alguém se dirigia para li, rapidamente, recompôs-se e começou a levantar-se da cama. Era uma rapariga, quando o viu assustou-se, Sullivan não conseguiu conter um leve sorriso.
-Desculpa- disse a rapariga, ainda assustada - Chamo-me Sophia.- acrescentou.
- Não faz mal. - disse rindo e pousando a mão, levemente, no ombro da rapariga, retirando-a de seguida. - Sou o Sullivan. Já estava de saída, fica à vontade. - disse o rapaz sorrindo - Vemo-nos por aí, boa sorte para o resto da recruta. - disse, acenando-lhe enquanto abandonava a sala.
A rapariga pareceu-lhe simpática, mas não queria estar mais dentro daquele edifício, o ar abafado que respirava começava a deixá-lo desconfortável. Apressou-se até à saída e fez questão de inspirar todo o ar que conseguiu, soltando-o lentamente. «Muito melhor» pensou o rapaz, caminhou pela quinta, sem saber muito bem onde ir, viu pessoas ao longe, não conseguiu perceber se eram recrutas ou formadores, mas não interessava, só queria apanhar ar fresco.
O tempo ia passando e Sullivan continuava a vaguear pelo campo, olhando para todos os lados, já fazia algum tempo que não comia, parou em frente a uns arbustos e retirou algumas bagas, por momentos, receou que fossem venenosas, mas comeu-as na mesma. Aquilo, pouco ou nada servia para afastar a fome, mas continuou a comer bagas que nem um tolo, não sabia se voltaria a comer tão cedo. Ouviu ruídos nuns arbustos ali perto, provavelmente era um animal, aproximou-se e olhou, de cima, riu-se quando viu que o ruído vinha de Elaine, que tivera a mesma ideia que ele, estava sentada, comendo bagas. Sullivan aproximou-se e cumprimentou-a,
- Elaine, certo? Posso sentar-me? - perguntou o rapaz, não queria, de todo, incomodá-la só esperava que não se importasse que lhe fizesse companhia.

Elaine ouviu alguém aproximar-se e rir-se. Era Sullivan.

- Elaine, certo? Posso sentar-me? - perguntou o rapaz.
- Tanto faz. - respondeu bruscamente, sem desviar o olhar do chão. Ele era simpático e custava-lhe tratá-lo mal, mas não confiava nas pessoas. A sua forma arrogante e áspera de ser era unicamente uma estratégia que encontrara para impedir que a magoassem, o que já tinha ocorrido imensas vezes.

Sullivan ignorou o seu comentário, sentando-se perto dela e continuando a mordiscar as bagas que trouxera nas mãos.

Sullivan já tinha notado o facto de Elaine ser meio agressiva a falar, não sabia bem porquê, talvez não gostasse dele, ou talvez fosse mesmo assim. Não importava, o rapaz sentou-se no chão, junto a ela, não dando muita importância ao seu comentário, continuando a comer as bagas que trazia de outro arbusto.
Tinha vontade de lhe dizer algo, mas a rapariga não parecia ser de muitas palavras, ou pelo menos não o era com ele. Aquelas bagas eram boas, mas um bocado acidas, fizeram com que os lábios rasgados de Sullivan começassem a arder ligeiramente, todas as dores fossem aquelas, ainda com a boca cheia de bagas, engoliu e virou-se para Elaine.
- Tens medo? - perguntou o rapaz, inocentemente.
Ela parecia forte, em todos os aspectos, mas parecia mais forte psicologicamente, não parecia o tipo de pessoa que ia desistir da recruta, uma pessoa com objectivos para cumprir e ideias fixas, sem medos e sem olhar a meios para cumprir os seus objectivos, mas isso era o que aparentava ser, Sullivan também se esforçava por parecer sempre alegre e confiante, mas havia alturas em que só pensava que não era capaz e que nem sabia o porquê de ali estar.

- Tens medo? - perguntou Sullivan, quebrando o silêncio.
- Medo? De quê? - respondeu, levantando o olhar para ele pela primeira vez desde que chegara.
- Da recruta, de te tornares agente da CIA, do que pode acontecer-te... Tens medo? - esclareceu-a.

Elaine permaneceu em silêncio, a refletir. Não tinha medo da recruta nem de se tornar uma agente da CIA, porque tinha treinado muito durante anos. Desde pequena que queria aquilo e sentia-se preparada. Estava ciente dos perigos que corria, mas não temia a morte.

-Hmm, não. Não tenho medo. E tu? - acabou por dizer.